A transferência de tecnologia espacial para inovações na Terra é mais comum do que imaginamos. A publicação Spinoff da NASA tem vindo a documentar estas transferências tecnológicas desde 1976, mostrando como a exploração espacial tem impacto em vários sectores da nossa sociedade.
Do Espaço para a Terra
Um exemplo é o termómetro de ouvido por infravermelhos. A tecnologia, desenvolvida para registar a temperatura das estrelas, foi adaptada para criar um método não invasivo de medir a temperatura corporal. O sensor infravermelho detecta o calor emitido pelo tímpano, fornecendo leituras rápidas e precisas sem contacto físico.
Outro exemplo é a espuma TEMPUR, inicialmente criada pela NASA para melhorar o amortecimento dos assentos e a protecção contra choques para pilotos de aviões. Este material, que se adapta à forma do corpo e distribui uniformemente o peso, é um tipo de “espuma de memória”, muito utilizada em colchões e almofadas, que proporciona conforto a milhões de pessoas.
O projeto MELiSSA (Micro-Ecological Life Support System Alternative) da Agência Espacial Europeia visa criar um sistema de suporte de vida em circuito fechado para missões espaciais de longa duração. Esta investigação conduziu a inovações na reciclagem de água e purificação do ar que estão agora a ser aplicadas aos desafios ambientais terrestres, com a contribuição do ESA Space Solutions Portugal sediado no Instituto Pedro Nunes.
Da Terra para o Espaço
Embora o espaço tenha contribuído significativamente para tecnologias terrestres, existem exemplos de transferência de tecnologia “inversa”. Um deles é o uso de impressão 3D para aplicações espaciais.
Desenvolvida para prototipagem rápida e fabrico na Terra, a tecnologia de impressão 3D está a ser explorada pelo seu potencial no espaço. A NASA e empresas privadas estão a investigar formas de utilizar esta técnica para produzir peças sobressalentes, ferramentas e até estruturas inteiras no espaço ou noutros planetas.
Esta tecnologia será crucial na exploração espacial, reduzindo a necessidade de dispendiosos envios de carga a partir da Terra. Os astronautas poderão fabricar o que precisam no destino, reduzindo os custos e a poluição associada aos lançamentos. A impressão 3D poderá ser a chave no estabelecimento de habitats na Lua ou em Marte, utilizando materiais locais para construir abrigos e outras infraestruturas.
O fluxo bidireccional de tecnologia entre o espaço e a Terra continua a impulsionar a inovação em vários sectores. A colaboração entre agências espaciais, instituições de investigação e empresas privadas promete, e sublinha a importância do investimento contínuo em ciência e tecnologia.
Pedro Lacerda, ESA Technology Broker, Instituto Pedro Nunes
19 de Novembro de 2024
(image credit: Infrared Ear Thermometer — Photograph Number JPL-17459Ac, Jet Propulsion Laboratory)